domingo, 25 de fevereiro de 2007

Consciência Não Condicionada e O Poder do Agora
Fonte:http://www.newtimes.org/issue/9911/99-11-power.html
Minha tradução:
Um diálogo entre Eckhart Tolle e Mary O'Malley
Eckhart Tolle, um mestre espiritual de Vancouver, Canadá, é o autor de O Poder do Agora, uma jóia de clareza e insight que foi aclamada como "uma obra-prima espiritual de e para nossos tempos."
Mary O'Malley é uma conselheira e mestre espiritual de Kirkland, Washington, e autora de Belonging to Life: The Journey of Awakening. (Pertencendo à vida: A Jornada do Despertar)
Mary: Nós estamos vivendo no tempo mais incrível, um tempo onde mais e mais pessoas estão despertando novamente para a vida, para o campo do Ser que está disponível no momento presente. Neste novo despertar, nós estamos prontos para deixar de definir a nós mesmos a partir do pensamento e descobrir a nós mesmos como algo muito maior e mais amplo que isto.
Eckhart: Sim. Por muitos milhares de anos, nós temos vivido identificados com a mente condicionada, derivando dela um pequeno e realmente ilusório sentido de eu, um "pequeno eu" - sempre lutando, medroso, inquieto, em conflito consigo mesmo e com outros. Nós estamos agora abertos para o nosso estado natural de "eu", em unidade com o Ser - o vasto reino da consciência ou a própria inteligência universal, da qual a mente pensadora é apenas um pequeno aspecto. Este é o reino do silêncio interior, a partir de onde surgem todas as coisas que fazem a vida valer a pena ser vivida: criatividade, paz, vivacidade, alegria, amor.
Mary: Cada um de nós despertamos para o não-condicionada de diferentes maneiras. Sua experiência foi um despertar espontâneo. A minha foi um despertar inicial e então uma jornada de anos na qual eu tive que olhar e deixar a mente condicionada.
Eckhart: Para a maioria das pessoas, é um processo gradual, como o que você experimentou. Esta dimensão emerge dentro delas. Ela quer emergir. Para mim, aconteceu de repente, no meu 29º ano de vida. Eu estava no meio de uma depressão suicida, pensando em me matar. O pensamento "Eu não posso mais viver comigo mesmo" ficou se repetindo na minha cabeça. Então, de repente, eu fiquei consciente da estranheza daquele pensamento "Se 'eu' não posso viver 'comigo mesmo', deve haver dois de mim: o 'eu' e o 'eu mesmo' com o qual eu não consigo viver."Naquele momento, minha consciência removeu sua identificação com eu infeliz, profundamente condicionado e muito medroso. A retirada deve ter sido tão completa que este eu falso e sofrido desmoronou completamente, como se um pino tivesse sido retirado de um brinquedo inflável. O que restou foi minha verdadeira natureza como o sempre presente EU SOU: consciência em seu estado puro, antes da identificação com a forma. Eu acordei no dia seguinte em êxtase, que vem e que vai. Mas a corrente profunda de paz nunca me deixou desde então.
Mary: O que você vê como o maior obstáculo para conhecer a consciência não condicionada?
Eckhart: Não ser capaz de parar de pensar. Esta é uma aflição terrível, mas nós não percebemos isto porque quase todo mundo está sofrendo disso. Então, ela é considerada normal. Esse barulho mental incessante impede você de encontrar aquele reino de calma interior que é inseparável do Ser. Isto também cria um falso eu criado pela mente, que lança uma sombra de medo e sofrimento.
Mary: Para mim, a mente condicionada era cheia de medo. Eu realmente tentei consertá-la e me livrar dela. Isto apenas me fez ficar mais contraída e separada da vida. Foi só quando eu comecei a poder ver o pensamento que eu pude me tornar calma e novamente aberta à vida.
Eckhart: Abrir-se à vida implica que você não está mais interpretando o momento presente de forma alguma. Este é o estado de liberdade. Quando você pode permitir que este momento seja como é, sem precisar rotulá-lo, querer que ele seja diferente do que é, você se abre para o vasto poder que está escondido no momento presente. Ele sempre esteve lá, mas esteve encoberto. Esta conexão não tem nada a ver com as circunstãncias da sua vida naquele momento. De fato, para muitas pessoas isso acontece quando as circunstâncias externas são as chamadas "ruins". É o simples fato de que você permitiu que este momento seja.
Mary: No meu livro, eu entro em detalhes passionais sobre os sentidos, pois para mim eles são um portal de volta para o Ser. Conforme as pessoas deixam os negócios da vida e cultivam seus sentidos, elas despertam novamente para a pura alegria que está contida no agora.
Eckhart: Estar consciente dos seus sentidos é um portal para o momento presente, no estado de presença. O que isto implica é que naquele momento de consciência aguda, a mente se tornou quieta. Este é o estado de consciência que é livre de pensamentos, e que é a coisa mais preciosa que poderia acontecer a você. Algumas pessoas experimentam isso acidentalmente num momento de perigo, beleza, exaustão física. Nós agora percebemos que nós podemos escolher entrar nesse estado conscientemente.
Mary: No meu despertar, uma das coisas mais difíceis com as quais eu tive que lidar foram a abertura e fechamento, a lembrança e o esquecimento. Ao experimentar o estado do Ser e então assistir a mente condicionada transformar tudo em um problema novamente, eu senti angústia.
Eckhart: Os problemas estão enraizados na própria estrutura da mente condicionada. Para sobreviver e continuar no controle, a mente precisa de problemas. Ela nunca dirá isso abertamente. Ela dirá, "Eu quero me livrar dos problemas", mas isso sempre recria problemas. Uma maneira rápida, quando você observa os problemas surgirem, é perguntar "Qual é o problema neste momento?" Então fique muito alerta para a realidade deste momento e veja se o problema tem qualquer realidade agora mesmo.
Mary: E normalmente ele não tem! Agora eu posso observar minha mente lutadora com grande gentileza. Eu acho que a razão pela qual eu posso vê-la tão claramente é que meu coração está aberto a isso. Eu tenho tanta misericórdia por esta mente que tentou desesperadamente me manter "segura", até que eu me tornei consciente o bastante para descobrir que eu sou segura.
Eckhart: Reconhecer que nunca há um problema no momento presente é uma percepção revolucionária. Às vezes, isto é interpretado erroneamente pela mente. Ela diz que você está negando a realidade por não se focar nesses problemas. É claro que não é isso. Sempre haverá desafios na via. A capacidade de lidar com os desafios é muito maior quando a atenção está totalmente no agora, em vez de num estado de resistência. Você pode então perguntar, "Neste momento, há algo que eu posso fazer?" Se houver, então o fazer acontece; a ação é realizada.Ou talvez não haja nada que você possa fazer no momento, e este momento é aceito da maneira que é. Isso simplifica a vida enormemente. Desafios não podem mais se transformar em problemas, e o peso sai da sua vida.
Mary: Uma outra coisa que me ajudou imensamente no meu despertar é não resistir ao que está acontecendo.
Eckhart: dar boas vindas ao que quer que aconteça neste momento é a prática espiritual definitiva. Se você praticar somente essa única coisa, você não precisará lera mais nenhum livro ou aprender nenhuma outra técnica de meditação. Dar boas-vidas o que quer que surja neste momento, fora ou dentro de você, traz liberdade. A mente condicionada dirá para você não fazer isso, porque ela acredita que, através da resistência, ela se tornará livre. Mas o contrário é a verdade. Ao resistir, você se torna ainda mais paralisado. Quando voc~e não acredita mais no que a mente está dizendo, você percebe que a maneira mais rápida para a transformação acontecer é darboas vindas ao que é. Nesse momento, a vida é livre para fluir atravès de você. A mente condicionada não está mais obstruindo a vida.
Mary: Ao falar sobre cultivar o agora, é fácil pensar que nós estamos "desativando" a mente e sua crença no passado e no futuro. Mas não é isso. Ela (a mente) é uma linda ferramenta que é necessária para manobrarmos através da vida, mas para a maioria de nós, ela toma controle das nossas vidas.
Eckhart: É apenas a identificação de si mesmo com a mente que causa sofrimento. Quando isso acontece, a mente possui uma qualidade compulsiva. Quando isso se vai, então a mente é uma ferramenta maravilhosa que pode dar expressão ao que acontece nos níveis mais profundos. Na vida diária, você precisa do passado e do futuro, mas sua identidade não precisa vir deles. A ilusão é procurar identidade no passado, identificar-se com o passado como se fosse "eu". A outra ilusão é procurar satisfação no futuro: Eu preciso me tornar algo; tornar-me mais completo; um dia, eu chegarei lá. Mesmo a iluminação pode se tornar uma ilusão, se você procurá-la como algum estado futuro.Ao cultivar o agora, você ainda se lembra de coisas do passado, mas a busca de si mesmo não existe mais nessas lembranças. E você ainda usa o futuro para assuntos práticos. A ansiedade e o apego, que são uma receita para a não-realização, não estão mais lá.
Mary: Quanto mais eu cultivo o agora, mais alegria eu sinto. Meu corpo inteiro se torna radiante quando eu me torno mais suave e aberta de novo à vida.
Eckhart: Eu chamo o que você está experimentando de "corpo interior". Algumas pessoas o chamam de corpo leve. É um senso geral de vivacidade através de cada célula do corpo. O estado de presença não é um estado mental; todo o seu ser participa dele.
Mary: Quando eu ouvir você falar no último verão, eu parei de ouvir suas palavras, e me abri para este corpo leve.
Eckhart: Quando se fala a partir do silêncio, as palavras carregam uma transmissão de energia, uma vibração. É como se as palavras fossem secundárias. É a energia que vem das palavras - ou melhor, o silêncio entre as palavras - que é o maior ensinamento.
Mary: Você gostaria de nos deixar com um último pensamento?
Eckhart: As pessoas dizem que viver no agora é difícil. Mas o contrário é que é a verdade. O jeito normal é que é difícil, e não viver no agora. Dar boas-vindas ao agora é dar boas-vindas à própria vida, porque o agora é inseparável da vida. Então, não faça do agora um inimigo. Faça amizade com ele. Em outras palavras, aceite cada momento e o que quer que ele contenha, como se fosse uma escolha sua. Imediatamente, a vida começará a trabalhar para você, em vez de contra você. Então observe o milagre da vida se revelar.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Onde está você?

Onde está você?

Está remoendo algum acontecimento passado?

Está ansiando por um evento futuro?

Ou está vivendo plenamente sua vida, que é o agora - e somente o agora?

Você precisa mesmo defender seu ponto de vista?

Sempre que você estiver conversando com alguém, verifique se você está sentindo necessidade de defender seu ponto de vista. Verifique a vontade de tornar a sua opinião mais importante do que a opinião do outro. Se essa vontade de "estar certo" aparecer em você, saiba que é o ego. O ego tem necessidade de estar certo. Para o ego, estar errado é a morte. Para satisfazer sua necessidade de estar certo, o ego se comunica com outros egos através da discussão ou da validação. Na discussão, o ego vê o seu ponto de vista sendo atacado, por isso ele reage e contra-ataca. É interessante perceber os recursos primitivos que ele utiliza, como aumentar o volume da voz, modificar a entonação da voz para torná-la mais dramática, fazer gestos ou posturas ameaçadoras, entre outros apelos emocionais. Já na validação, o ego encontra pessoas com pontos de vista semelhantes aos seus, e assim se sente "entre amigos". Durante a validação, os egos "amigos" se inflam através do ataque às pessoas "que não conhecem a verdade", ou seja, que têm opiniões contrárias às suas. Mas perceba que esses "amigos" só são "amigos" do ego enquanto compartilham opiniões semelhantes. Quando mudam de assunto e as opiniões se tornam conflitantes, a discussão começa novamente.

Enquanto a humanidade continuar vivendo no estágio atual, que é o relacionamento entre egos, não haverá comunicação verdadeira. Enquanto houver necessidade de se defender e atacar, não haverá espaço para ouvir o outro, não haverá espaço para compaixão, que é reconhecer a si mesmo no outro.

Quando você descobre sua verdadeira natureza além desse ego frágil e carente, não há mais necessidade de se defender, não há mais necessidade de atacar, não há mais necessidade de estar certo. É claro que você pode expor seu ponto de vista com firmeza. Você pode continuar concordando ou discordando, normalmente. Mas você pode se libertar do vício de estar sempre certo, e você pode perder o medo de estar errado. Se você busca a verdade em si mesmo, então deve reconhecer que pode não estar certo todas as vezes. Para sua verdadeira natureza, estar certo ou errado não faz a menor diferença. Estar certo não vai torná-lo melhor do que ninguém, e estar errado não vai torná-lo menos digno. Esse é o princípio da humildade, que precisamos cultivar com urgência.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Tempo, o maior obstáculo

Desde a antiguidade, mestres espirituais de todas as tradições apontam o Agora como a chave para a dimensão espiritual. Mas parece que isso permaneceu como um
segredo. Com certeza, não é ensinado em igrejas ou em templos. Se você vai a uma
igreja, pode ouvir passagens do Evangelho como “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”,ou “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”. A profundidade e a natureza
radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Parece que ninguém percebe que
os ensinamentos foram formulados para serem vividos e, dessa forma, provocarem
uma profunda transformação interior.

Toda a essência do zen consiste em caminhar sobre o fio da navalha do Agora, em estar tão absolutamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem somos em essência, possa permanecer em nós. No Agora, na ausência do tempo, todos os nossos problemas se dissolvem. O sofrimento precisa do tempo e não consegue sobreviver no Agora.O grande mestre zen Rinzai, visando desviar a atenção de seus alunos do tempo, levantava o dedo com freqüência e perguntava calmamente:
“O que está faltando neste exato momento?” Uma pergunta poderosa, que não requer resposta no plano da mente. É formulada para conduzir uma atenção profunda para o Agora. Outra questão muito usada na tradição zen é: “Se não é agora, então quando?”

O Agora é também um ponto central no ensinamento do sufismo, o braço místico do islamismo. Os sufistas têm um ditado que diz: “O sufista é filho do momento presente”. E Rumi, o grande poeta e mestre do sufismo, ensina: “Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista, ponha fogo em ambos”.

Mestre Eckhart, mestre espiritual do século treze, resumiu tudo isto com poucas e belas palavras, ao afirmar: “O que impede a luz de nos alcançar é o tempo. Não há maior obstáculo para Deus do que o tempo”.



~ Eckhart Tolle, O Poder do Agora

Conto zen: Você ainda a está carregando?

Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva ainda caía, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta, incapaz de cruzar a intercessão.

"Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a em seus braços, ele a carregou atravessando o lamaçal.

Ekido não falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então ele não mais se conteve e disse:

"Nós monges não nos aproximamos de mulheres," ele disse a Tanzan, "especialmente as jovens e belas. Isto é perigoso. Por que fez aquilo?"

"Eu deixei a garota lá," disse Tanzan. "Você ainda a está carregando?"

E você? Quantas coisas inúteis você está carregando neste exato momento?

Qual é o som do silêncio?

Uma prática bastante útil para aumentar a consciência é ouvir o silêncio. Quando ouver o silêncio, ouça-o. E continue ouvindo, tanto quanto puder. Você só consegue "ouvir o silêncio" quando sua mente está sem pensamentos (caso contrário, você "ouviria" seus pensamentos e não conseguiria perceber o silêncio).

Quando você percebe continuamente o silêncio, sem interrupção, você não pensa, mas está alerta. Qualquer pequeno ruído é percebido. Você está vivo, mas não faz barulho. Você fica presente, e o tempo pára.

Nesse momento, você percebe o erro do filósofo Descartes quando afirmou "Penso, logo existo". Descartes associou o pensamento à existência, porque o pensamento é algo contínuo, para quase todo ser humano. Com a prática de perceber o silêncio, você consegue interromper o fluxo de pensamentos. Você então descobre que pode existir, mesmo quando não está pensando. A prática desse exercício levará você a dominar sua mente. Você continuará sendo capaz de pensar normalmente, mas não será mais viciado em pensar.

Não busque o seu eu interior dentro da mente

Em seu livro O Poder do Agora, Eckhart Tolle responde a um
questionamento:

"Sinto que ainda tenho muito a aprender sobre as atividades da
minha mente, antes de poder chegar a algum lugar próximo da consciência ou
iluminação espiritual.

Não, não tem. Os problemas da mente não podem ser solucionados no nível da
mente. No momento em que compreendemos que não somos a nossa mente, não existe muito mais a aprender ou compreender. O máximo que podemos conseguir ao estudar a mente é nos tornarmos bons psicólogos, mas isso não nos levará para além da mente, do mesmo modo que estudar a loucura não basta para criar a sanidade. Já
entendemos a mecânica básica do estado de inconsciência, ou seja, quando nos
identificamos com a mente geramos um falso eu interior, o ego, que é um substituto do nosso verdadeiro eu interior enraizado no Ser. Passamos a ser “um ramo cortado da videira”, como Jesus pregou.

As necessidades do ego são intermináveis. Ele se sente vulnerável e ameaçado e, em conseqüência, vive em um estado de medo e carência. Quando entendemos esse funcionamento anormal da mente, não precisamos examinar todas as suas numerosas manifestações, nem transformá-lo em um problema pessoal complexo.
O ego, é claro, adora fazer isso. Está sempre buscando algo em que se apegar para sustentar e fortalecer a ilusão que tem de si mesmo e para juntar aos seus problemas. Essa é a razão pela qual, para muitos de nós, o sentido do eu interior está intimamente ligado aos nossos problemas. Quando isso acontece, a última coisa que desejamos é nos livrar deles, porque isso significaria a perda do eu interior. Por isso, pode existir uma grande parte de investimento inconsciente do ego em mágoa e sofrimento.

Portanto, se reconhecermos que a raiz da inconsciência vem de uma identificação com a mente, o que naturalmente inclui as emoções, estaremos dando um passo para nos livrar da mente. Ficamos presentes. Quando estamos presentes, podemos permitir que a mente seja como é, sem nos deixar enredar por ela. A mente em
si é uma ferramenta maravilhosa. O mau funcionamento acontece quando buscamos o nosso eu interior dentro dela e a confundimos com quem somos. É nesse momento que a mente torna-se egóica e domina toda a nossa vida."

O que Tolle quer dizer com "Não busque o seu eu interior dentro da mente"? Ele quer dizer que a mente está em nós, mas nós não estamos na mente. A mente pensante é um aspecto da nossa consciência. A mente existe por causa da consciência, e não o contrário. Quando lhe perguntam "quem é você?", você responde que é um médico, um advogado, um estudante, etc. Claro, essas podem ser suas funções. Mas o que você realmente é, não é isso. Então, quem é você? Você é a essência, que existe por trás da função de médico, de advogado, estudante, etc. Você é a Vida, que já existia antes da aparição dessa forma de vida que você conhece.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

A maioria das pessoas não suporta a paz

Todos falamos em paz, todos dizemos que o mundo deveria ser pacífico, com menos problemas, etc.
Mas é isso mesmo que as pessoas querem?
No fundo, todas as pessoas querem paz. Não há nenhuma pessoa que não queira paz. Mas no seu estágio atual de consciência, o ser humano não pode tolerar a paz.
O que é a paz?
Paz é ausência de inimigos, ausência de hostilidade, ausência de drama. Paz é silêncio, paz é serenidade.
Mas mesmo querendo a paz, não é a paz que as pessoas estão cultivando. E as pessoas não estão conscientes o bastante para perceberem isso. A paz significaria a sua libertação. Mas as pessoas ainda estão muito presas aos seus personagens e aos seus dramas. Com a paz, o drama acaba. E quando acaba o drama, as pessoas perdem a identidade que criaram em torno do drama. Por esse motivo, as pessoas não conseguem experimentar a paz por muito tempo. Porque a mente humana vê a paz como tédio e como estagnação. Logo surge a necessidade de criar um novo drama e novos problemas, de lutar por um ideal, de encontrar um final feliz. E quando bilhões de pessoas agarram-se aos seus dramas pessoais, quando lutam por ideais, quando lutam para encontrar um final feliz, o confronto entre elas é inevitável.
Mas você pode se libertar e atingir a paz, se estiver disposto a abandonar seu drama.

Exercício para parar a mente tagarela

Existem momentos em que nossos pensamentos nos atormentam e tiram a nossa concentração, como uma voz irritante ou uma música que não sai da cabeça. Como um disco riscado, repetindo infinitamente as mesmas coisas. Nessas horas, tudo o que queremos é parar, ou pelo menos diminuir a força dessa mente tagarela. Mas é difícil. Mas como fazer isso?

Aqui está um exercício que talvez seja útil para você: quando a mente começar a tagarelar, olhe para cima (como se você estivesse numa história em quadrinhos, olhando para o balão dos seus pensamentos) e comece a observar o que você está pensando. Veja o padrão repetitivo, compulsivo e frenético, dos seus pensamentos. Em seguida, comece a pensar conscientemente e debochadamente: "BLABLABLABLABLABLA...". Encha o balão dos seus pensamentos com esse "BLABLABLABLABLA..." debochado, de forma que esse pensamento substitua a tagarelice da sua mente. Pouco a pouco, o ruído mental vai diminuindo. Mas não faça esse exercício com seriedade, com raiva, ou com tristeza. Faça-o com leveza. Mantenha a leveza e o deboche, como se você estivesse rindo dos seus pensamentos. Leveza e bom humor são as palavras-chaves aqui.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O tempo não existe

Sim, é verdade. O tempo não existe. E o agora é eterno. Isto é, o agora não tem começo nem fim.
Aparentemente, tudo o que existe é passado ou futuro.
Aparentemente, quando pensamos no agora, esse agora se torna passado.
Mas apenas aparentemente.
Isso porque aquilo que chamamos normalmente de "presente" não é realmente o presente, mas sim as formas que surgem no agora. Por exemplo, quando tomamos um sorvete e tentamos perceber aquilo como "o agora", logo o sorvete acaba e concluímos erroneamente que "o presente se tornou passado". O que acontece de fato é que o presente se manteve imutável nesse processo, como um pano de fundo em que as formas aparecem do nada e somem para o nada, como o sorvete que acabamos de tomar. Mas a mente humana, em seu modo de funcionamento normal, não consegue perceber esse processo. Quando tentamos pensar sobre o agora, a nossa mente consegue apenas conceitualizar as coisas que aparecem no agora, e por isso não conseguimos perceber o momento presente, que é o pano de fundo sobre o qual as coisas acontecem. Aparentemente (e só aparentemente) o presente "se torna passado" porque nossa mente cria um conceito para essa forma chamada "sorvete", logo depois que o observamos. Mesmo quando o sorvete acaba, a mente continua presa ao conceito "sorvete". Como não há mais sorvete para observar, a mente busca o sorvete na memória, e assim ela cria o que chamamos de "passado". Nesse momento, deixamos de estar presentes. Perdemos a percepção com esse pano de fundo eterno, chamado de agora.

Apenas ouça

Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.
(Lucas 10:38-42)

Estamos ansiosos e perturbados com muitas coisas. Mas apenas algumas coisas são realmente necessárias, como a atenção e a disposição para ouvir.

Olhando além das palavras

Eterno agora. Este é o momento em que o universo é criado e recriado continuamente. A realidade bruta, imediata, que antecede qualquer conceito, qualquer pensamento. Essa é a realidade, a única realidade, que não conseguimos acessar porque estamos perdidos em pensamentos, tentando entender, tentando racionalizar, julgando e classificando.

O sábio chinês Lao Tzu começou escrevendo assim o seu Tao Te Ching:

O Tao de que se pode falar não é o
verdadeiro e eterno Tao
.


O que Lao Tzu queria dizer com isso? Não se fixe nas palavras, não se fixe nos conceitos. As palavras apenas apontam para uma realidade que existe além delas. Assim como placas de rodovias que meramente indicam caminhos, como "Salvador", ou "Rio de Janeiro". Não se pode encontrar a cidade de Salvador ou a do Rio nessas placas. É inútil fixar-se nessas placas, observá-las pelo microscópio. É necessário largar as placas, e seguir o caminho para onde elas apontam. Esse é o nosso exercício: largar os conceitos, deixar as palavras para trás, e seguir adiante.