domingo, 16 de março de 2008

Jill Bolte Taylor, a neurocientista que vive no agora

http://blog.ted.com/2008/03/jill_bolte_tayl.php#more

Eu me tornei adulta para estudar o cérebro porque tenho um irmão que foi diagnosticado com uma desordem no cérebro, esquizofrenia. E como irmã e cientista, eu quis entender, por é que que eu posso pegar meus sonhos, eu posso conectá-los à minha realidade, e eu posso transformar meus sonhos em realidade - e o que é que acontece com o cérebro do meu irmão e a sua
esquizofrenia, que ele não consegue conectar seus sonhos em uma realidade comum e compartilhada, para que eles não se tornem ilusões?

Então eu dediquei minha carreira para pesquisar doenças mentais severas. E eu me mudei do meu estado natal da Indiana para Boston, onde eu trabalhava no laboratório da Drª Francine Benes, no Departamento de Psiquiatria de Harvard. E no laboratório, nós estávamos respondendo à questão, de quais são as diferenças biológicas entre os cérebros de indivíduos que tinham sido diagnosticados como controle normal, em comparação com cérebros de indivíduos diagnosticados com esquizofrenia, desordem esquizoafetiva ou desordem bipolar?

Então nós essencialmente mapeávamos os microcircuitos do cérebro, quais células comunicam-se com quais células, com quais substâncias, e então com quais quantidades dessas substâncias. Então havia um monte de significado na minha vida porque eu estava fazendo este tipo de pesquisa durante o dia. Mas então, toda noite e nos finais de semana eu viajava como uma representante do NAMI, a Aliança Nacional sobre Doença Mental.

Mas na manhã de 10 de dezembro de 1996, eu acordei para descobrir que eu mesma tinha uma desordem cerebral. Um vaso sangüíneo se rompeu no hemisfério esquerdo do meu cérebro. E no decorrer das quatro horas seguintes, eu observei a capacidade
do meu cérebro para processar informação se deteriorar completamente. Na manhã da hemorragia eu não podia andar, falar, ler, escrever ou lembrar de nada da minha vida. Eu simplesmente me tornei um bebê no corpo de uma mulher.

Se você já viu um cérebro humano, é óbvio que os dois hemisférios são completamente separados um do outro. E eu trouxe para vocês um cérebro humano real. [Obrigado] Então, este é um cérebro humano real. Esta é a frente do cérebro, a parte de
trás do cérebro com a medula espinhal pendurada, e é assim que ele estaria posicionado dentro da minha cabeça. E quando você olha o cérebro, é óbvio que os dois córtex cerebrais estão completamente separados um do outro. Para aqueles
que entendem de computadores, nosso hemisfério direito funciona como um processador paralelo. Enquanto nosso hemisfério esquerdo funciona como um processador serial. Os dois hemisférios se comunicam entre si através do corpo caloso, que é um feixe formado por cerca de 300 milhões de fibras. Mas fora isso, os dois hemisférios são completamente separados. Por eles processarem informação de forma diferente, cada hemisfério pensa sobre coisas diferentes, se ocupam de coisas diferentes,
e eu me atrevo a dizer, que eles têm personalidades muitos diferentes. [Desculpe-me. Obrigada. Foi um prazer.]

Nosso hemisfério direito é voltado totalmente para o momento presente. É sobre o aqui mesmo, agora mesmo. Nosso hemisfério direito pensa em imagens e aprente cinestesicamente através do movimento dos nossos corpos. A informação em forma
de energia flui simultaneamente através de todos os nossos sistemas sensoriais. E então explode nesta enorme composição que se apresenta como o presente momento. O cheiro, o gosto, e a sensação e o som do momento presente. Eu su um ser de
energia conectado com toda a energia ao meu redor através da consciência do meu hemisfério direito. Nós somos seres de energia conectads uns aos outros através da consciência dos nossos hemisférios direitos como uma única família humana.
E aqui mesmo, agora mesmo, todos nós somos irmãos e irmãs neste planeta, aqui para fazer do mundo um lugar melhor. E neste momento nós somos perfeitos. Nós somos inteiros. E nós somos lindos.

Meu hemisfério esquerdo é um lugar muito diferente. Nosso hemisfério esquerdo pensa linear e metodicamente. Nosso hemisfério esquerdo é todo sobre o passado, e é todo sobre o futuro. Nosso hemisfério esquerdo é projetado para pegar essa
enorme colagem do momento presente, e começar a coletar detalhes e mais detalhes e mais detalhes sobre aqueles detalhes. E então categorizar e organizar toda essa informação. E a associa com tudo que já aprendemos no passado e projeta no futuro todas as nossa possibilidades. E nosso hemisfério esquerdo pensa em forma de linguagem. É essa conversa cerebral que conecta a mim e o meu munto interior com o meu mundo exterior. É essa pequena voz que me diz, "Ei, você tem que se lembrar de comprar bananas no caminho de casa, e comê-las de manhã". É essa inteligência calculadora que me lembra de que eu tenho que
lavar minhas roupas. Mas talvez o mais importante, é essa pequena voz que me diz "Eu sou. Eu sou." E assim que meu hemisfério esquerdo me diz "Eu sou", eu me torno separada. Eu me torno um indivíduo sozinho e sólido, separado do
fluxo de energia ao meu redor e separado de você. E essa foi a porção do meu cérebro que eu havia perdido na manhã do meu derrame.

Na manhã do meu derrame, eu acordei com um uma dor pontiaguda atrás do meu olho esquerdo. E era um tipo de dor, uma dor que queimava, que você sente quando morde um sorvete. E essa dor me deixou logo depois de me atacar. Então me atacou de
novo e então me deixou. E era um tipo muito incomum para mim sentir qualquer dor, então eu pensei "Ok, eu vou começar minha rotina normal. Então eu me levantei e pulei no meu cardio glider, que é um aparelho de ginástica para o corpo todo.
E então lá estava eu agarrada no aparelho, e percebendo que minhas mãos se pareciam como garras primitivas agarrando a barra. Eu pensei "isso é muito estranho" e olhei para o meu corpo e pensei "uau, eu sou uma coisa de aparência
esquisita" E foi como se a minha consciência houvesse mudado da minha percepção normal da realidade, de ser uma pessoa fazendo exercícios num aparelho, para algum espaço esotérico onde eu observo eu mesma tendo essa experiência.

E era tudo muito estranho e a minha dor de cabeça estava ficando pior, então eu saí da máquina, e atravessei a minha sala de estar, e percebi que tudo dentro do meu corpo tinha ficado mais lento. E cada passo era muito rígido e muito deliberado.
Não havia fluidez no meu caminhar, e não havia pressão nas minhas áreas de percepção, então eu apenas me foquei nos meus sistemas internos. E eu estava de pé no meu banheiro me preparando para entrar no chuveiro e então pude realmente
ouvir o diálogo interno no meu corpo. Eu ouvi uma pequena voz dizendo "Ok, vocês, músculos, vocês têm que se contrair, vocês músculos, relaxem"

E então eu perdi meu equilíbrio e me apoiei na parede. E eu olhei pra baixo, para o meu braço, e percebi que não conseguia mais definir os limites do meu corpo. Eu não podia definir onde eu começava e onde eu terminava. Porque os
átomos e as moléculas do meu braço haviam se fundido com os átomos e moléculas da parede. E tudo que eu podia detectar era essa energia. Energia. E eu estava perguntando a mim mesma, "o que há de errado comigo, o que está acontecendo?"
E nesse momento, a minha conversa cerebral, a conversa cerebral do meu hemisfério esquerdo tinha se silenciado totalmente. Exatamente como quando alguém pega um controle remoto e aperta o botão de "mudo" e - silêncio total.

E no começo eu fiquei chocada ao me ver dentro de uma mente silenciosa. Mas então eu fiquei imediatamente pela grandiosidade da energia ao meu redor. E por eu não poder mais identificar os limites do meu corpo, eu me senti enorme e expansiva.
Eu me senti em unidade com toda a energia que havia, e aquilo ali era lindo.

Então de repente meu hemisfério esquerdo voltou à ativa e me disse, "Ei! Nós temos um problema, nós temos um problema, nós temos que pedir ajuda." Então era como "Ok, ok, nós temos um problema, mas então me deixei levar imediatamente
de volta para a consciência, e eu carinhosamente me referi a esse espaço como "La La Land". Mas era lindo ali. Imagine como seria, estar totalmente desconectado da nossa conversa cerebral que conecta você ao mundo exterior. Então ali estou
eu nesse espaço e qualquer estresse relacionado ao meu trabalho havia sumido. E eu senti leveza no meu corpo. E imagine todos os relacionamentos no mundo exterior e os tantos causadores de estresse relacionados a esses relacionamentos, todos
eles tinham sumido. Eu senti uma sensação de paz. E imagine o que é perder 37 anos de bagagem emocional! Eu senti euforia. A euforia era maravilhosa - e então meu hemisfério esquerdo volta à ação e diz "Ei! você tem que prestar
atenção, nós temos que buscar ajuda", e eu pensei "Eu tenho que pedir ajuda. Tenho que me focar." Então saí do chuveiro e mecanicamente me vesti e andei pelo meu apartamento, e eu pensava "Eu tenho que ir trabalhar, tenho que
ir pro trabalho, consigo dirigir? Consigo dirigir?"

Naquele momento meu braço direito ficou totalmente paralisado do meu lado. E eu percebi "O meu Deus! Estou tendo um derrame! Estou tendo um derrame!" E a próxima coisa que o meu cérebro me diz é "Uau! Isso é tão legal. Isso é tão legal. Quantos cientistas têm oportunidade de estudar seu próprio cérebro de dentro para fora?"

E então veio à minha cabeça: "Mas eu sou uma mulher muito ocupada. Eu não tenho tempo para um derrame!" Então é como "Ok, eu não posso impedir que o derrame aconteça, então vou fazer isso por uma semana ou duas, então vou voltar para
minha rotina, ok."

Então eu tenho que pedir ajuda por telefone, eu tenho que telefonar para o trabalho. Eu não conseguia me lembrar do número do telefone do meu trabalho, então me lembrei, no meu escritório eu tinha um cartão com meu número nele. Então eu fui para a minha sala de trabalho, e levantei uma pilha de 3 polegadas de cartões profissionais. E eu estava ali olhando o cartão de cima, e embora eu pudesse ver claramente no olho da minha mente como o meu cartão se parecia, eu não conseguia distinguir se esse cartão era meu ou não, porque tudo o que eu podia ver eram pixels. E os pixels das palavras se fundiam com os pixels
do cartão e com os pixels dos símbolos, e eu não conseguia distinguir. E eu esperaria pelo que eu chamava de "onda de clareza" E naquele momento, eu podia me conectar com minha realidade normal e distinguir, "esse não é o meu cartão,
esse não é o meu cartão, esse não é o cartão" Eu levei 45 minutos para ver 2 centímetros e meio de cartões.

Enquanto isso, por 45 minutos a hemorragia se tornou maior no meu hemisfério esquerdo. Eu não entendia números, eu não entendia o telefone, mas esse era o único plano que eu tinha. Então eu peguei o fone e coloquei aqui, peguei o cartão, coloquei aqui, e tentava coincidir o formato dos números no cartão com o formato dos números no fone. Mas então eu voltava para o "La La Land", e não me lembrava mais se eu já tinha digitado aqueles números.

Então eu tive que manusear meu braço paralisado como uma caneta, e cobri os números que eu já tinha digitado e ia digitando, para que eu pudesse voltar à realidade e dizer "sim, eu já digitei esse número" No fim, todo o número havia sido digitado, e eu ouvi ao telefone, e meu colega pegou o telefone e me disse "au au au au au au" [risos] E eu pensei "Oh, meu Deus, ele fala
como um cachorro!" E então, na minha mente eu disse a ele, claramente "Aqui é a Jill! Eu preciso de ajuda!" E o que saiu na minha voz foi "au au au au au". Eu pensei "Oh meu Deus, eu falo que nem um cachorro" Então eu não podia saber, eu não sabia que eu não podia falar ou entender a linguagem até aquele momento.

Então eu reconheci que eu precisava de ajuda, e ele me mandou ajuda. E um pouco depois, eu estava indo de ambulância de um hospital do outro lado de Boston para o Hospital Geral de Massachussetts. E eu me enrolei numa pequena bola fetal. E exatamente como um balão com a última reserva de ar, bem ali fora do balão eu senti minha energia se elevar e senti meu espírito se render. E naquele momento eu sabia que eu não era mais a coreógrafa da minha vida. E que ou os médicos resgatariam o meu corpo e me dariam uma segunda chance, ou esse era talvez meu momento de transição.

Então eu acordei depois daquela manhã e eu estava chocada ao descobrir que eu ainda estava viva. Quando eu senti meu espírito se render, eu disse adeus à vida, e minha mente estava agora suspensa entre dois planos bem diferentes da realidade. Os estímulos que chegavam ao meus sistemas sensoriais pareciam pura dor. A luz queimava o meu cérebro como fogo selvagem e soava
tão caótica que eu não podia distinguir uma voz do barulho ao fundo, e eu só queria escapar. Por eu não conseguir identificar a posição do meu corpo no espaço, eu me senti enorme e expansiva, como um gênio que acabou de ser libertado da sua garrafa. E meu espírito se ergueu livre, como uma grande baleia flutuando no mar de euforia silenciosa. Harmoniosamente. Eu lembro de ter pensado que não havia jeito de eu espremer a enormidade de mim mesma e colocá-la de volta dentro deste minúsculo corpo.

Mas eu percebi "Mas eu ainda estou viva! Eu ainda estou viva e eu encontrei o Nirvana. E se eu encontrei o Nirvana e ainda estou viva, então qualquer um que está vivo pode encontrar o Nirvana." Eu imaginei um mundo cheio de pessoas lindas, pacíficas, compassivas e amorosas, que pudessem saber que podiam vir para esse espaço a qualquer momento. E que eles podiam escolher conscientemente pular para o hemisfério direito e encontrar essa paz. E então eu percebi a tremenda dádiva que essa experiência podia ser, que esse derrame de insight uma maneira de como poderíamos viver nossas vidas. E isso me motivou a me recuperar.

Duas semanas e meis após a hemorragia, os cirurgiões chegaram e removeram uma massa de sangue do tamanho de uma bola de golfe que estava pressionando meus centros de linguagem. Aqui eu estou com a minha mamãe, que é um verdadeiro anjo na minha vida. Eu levei oito anos para me recuperar completamente.

Então quem somos nós? Nós somos a força da vida do universo, com destreza manual e duas mentes cognitivas. E nós temos o poder de escolher, momento a momento, quem e como nós queremos ser no mundo. Aqui mesmo e agora mesmo, eu posso entrar na consciência do meu hemisfério direito onde nós somos - eu sou - a força da vida do universo, e a força da vida das 50 trilhões de gênios moleculares maravilhosos que constituem a minha forma. Em unidade com tudo que é. Ou eu posso escolher entrar na consciência do meu hemisfério esquerdo, onde eu me torno um indivíduo único, um sólido, separado do fluxo, separado de você. Eu sou a Drª Jill Bolte Taylor, intelectual, neuro-anatomista. Esses são os "nós" dentro de mim.

Qual você escolheria? Qual você escolhe? E quando? Eu acredito que quanto mais tempo nós passamos escolhendo ativar os circuitos profundos a nossa paz interior dos nossos hemisférios direitos, mais paz nós projetaremos no mundo e mais pacífico nosso planeta será. E eu penso que essa é uma idéia que vale a pena difundir.

(Traduzido por Marcelo Oliveira)

Jill Bolte Taylor, a cientista que vive o agora

http://blog.ted.com/2008/03/jill_bolte_tayl.php#more

<diagnosticado com uma desordem no cérebro, esquizofrenia. E como irmã e
cientista, eu quis entender, por é que que eu posso pegar meus sonhos, eu
posso conectá-los à minha realidade, e eu posso transformar meus sonhos em
realidade - e o que é que acontece com o cérebro do meu irmão e a sua
esquizofrenia, que ele não consegue conectar seus sonhos em uma realidade
comum e compartilhada, para que eles não se tornem ilusões?

Então eu dediquei minha carreira para pesquisar doenças mentais severas.
E eu me mudei do meu estado natal da Indiana para Boston, onde eu trabalhava
no laboratório da Drª Francine Benes, no Departamento de Psiquiatria de
Harvard. E no laboratório, nós estávamos respondendo à questão, de quais são
as diferenças biológicas entre os cérebros de indivíduos que tinham sido
diagnosticados como controle normal, em comparação com cérebros de indivíduos
diagnosticados com esquizofrenia, desordem esquizoafetiva ou desordem bipolar?

Então nós essencialmente mapeávamos os microcircuitos do cérebro, quais
células comunicam-se com quais células, com quais substâncias, e então
com quais quantidades dessas substâncias. Então havia um monte de significado
na minha vida porque eu estava fazendo este tipo de pesquisa durante o dia.
Mas então, toda noite e nos finais de semana eu viajava como uma representante
do NAMI, a Aliança Nacional sobre Doença Mental.

Mas na manhã de 10 de dezembro de 1996, eu acordei para descobrir que eu mesma
tinha uma desordem cerebral. Um vaso sangüíneo se rompeu no hemisfério esquerdo
do meu cérebro. E no decorrer das quatro horas seguintes, eu observei a capacidade
do meu cérebro para processar informação se deteriorar completamente. Na manhã
da hemorragia eu não podia andar, falar, ler, escrever ou lembrar de nada da
minha vida. Eu simplesmente me tornei um bebê no corpo de uma mulher.

Se você já viu um cérebro humano, é óbvio que os dois hemisférios são completamente
separados um do outro. E eu trouxe para vocês um cérebro humano real. [Obrigado]
Então, este é um cérebro humano real. Esta é a frente do cérebro, a parte de
trás do cérebro com a medula espinhal pendurada, e é assim que ele estaria
posicionado dentro da minha cabeça. E quando você olha o cérebro, é óbvio que os
dois córtex cerebrais estão completamente separados um do outro. Para aqueles
que entendem de computadores, nosso hemisfério direito funciona como um processador
paralelo. Enquanto nosso hemisfério esquerdo funciona como um processador serial.
Os dois hemisférios se comunicam entre si através do corpo caloso, que é um feixe
formado por cerca de 300 milhões de fibras. Mas fora isso, os dois hemisférios
são completamente separados. Por eles processarem informação de forma diferente,
cada hemisfério pensa sobre coisas diferentes, se ocupam de coisas diferentes,
e eu me atrevo a dizer, que eles têm personalidades muitos diferentes. [Desculpe-me.
Obrigada. Foi um prazer.]

Nosso hemisfério direito é voltado totalmente para o momento presente. É sobre o
aqui mesmo, agora mesmo. Nosso hemisfério direito pensa em imagens e aprente
cinestesicamente através do movimento dos nossos corpos. A informação em forma
de energia flui simultaneamente através de todos os nossos sistemas sensoriais. E
então explode nesta enorme composição que se apresenta como o presente momento.
O cheiro, o gosto, e a sensação e o som do momento presente. Eu su um ser de
energia conectado com toda a energia ao meu redor através da consciência do meu
hemisfério direito. Nós somos seres de energia conectads uns aos outros através
da consciência dos nossos hemisférios direitos como uma única família humana.
E aqui mesmo, agora mesmo, todos nós somos irmãos e irmãs neste planeta, aqui
para fazer do mundo um lugar melhor. E neste momento nós somos perfeitos. Nós
somos inteiros. E nós somos lindos.

Meu hemisfério esquerdo é um lugar muito diferente. Nosso hemisfério esquerdo
pensa linear e metodicamente. Nosso hemisfério esquerdo é todo sobre o passado,
e é todo sobre o futuro. Nosso hemisfério esquerdo é projetado para pegar essa
enorme colagem do momento presente, e começar a coletar detalhes e mais detalhes
e mais detalhes sobre aqueles detalhes. E então categorizar e organizar toda
essa informação. E a associa com tudo que já aprendemos no passado e projeta
no futuro todas as nossa possibilidades. E nosso hemisfério esquerdo pensa
em forma de linguagem. É essa conversa cerebral que conecta a mim e o meu
munto interior com o meu mundo exterior. É essa pequena voz que me diz, "Ei,
você tem que se lembrar de comprar bananas no caminho de casa, e comê-las de
manhã". É essa inteligência calculadora que me lembra de que eu tenho que
lavar minhas roupas. Mas talvez o mais importante, é essa pequena voz que me
diz "Eu sou. Eu sou." E assim que meu hemisfério esquerdo me diz "Eu sou",
eu me torno separada. Eu me torno um indivíduo sozinho e sólido, separado do
fluxo de energia ao meu redor e separado de você.

E essa foi a porção do meu cérebro que eu havia perdido na manhã do meu derrame.

Na manhã do meu derrame, eu acordei com um uma dor pontiaguda atrás do meu olho
esquerdo. E era um tipo de dor, uma dor que queimava, que você sente quando morde
um sorvete. E essa dor me deixou logo depois de me atacar. Então me atacou de
novo e então me deixou. E era um tipo muito incomum para mim sentir qualquer dor,
então eu pensei "Ok, eu vou começar minha rotina normal. Então eu me levantei e
pulei no meu cardio glider, que é um aparelho de ginástica para o corpo todo.
E então lá estava eu agarrada no aparelho, e percebendo que minhas mãos se
pareciam como garras primitivas agarrando a barra. Eu pensei "isso é muito
estranho" e olhei para o meu corpo e pensei "uau, eu sou uma coisa de aparência
esquisita" E foi como se a minha consciência houvesse mudado da minha percepção
normal da realidade, de ser uma pessoa fazendo exercícios num aparelho, para
algum espaço esotérico onde eu observo eu mesma tendo essa experiência.

E era tudo muito estranho e a minha dor de cabeça estava ficando pior, então eu
saí da máquina, e atravessei a minha sala de estar, e percebi que tudo dentro do
meu corpo tinha ficado mais lento. E cada passo era muito rígido e muito deliberado.
Não havia fluidez no meu caminhar, e não havia pressão nas minhas áreas de
percepção, então eu apenas me foquei nos meus sistemas internos. E eu estava de
pé no meu banheiro me preparando para entrar no chuveiro e então pude realmente
ouvir o diálogo interno no meu corpo. Eu ouvi uma pequena voz dizendo "Ok, vocês,
músculos, vocês têm que se contrair, vocês músculos, relaxem"

E então eu perdi meu equilíbrio e me apoiei na parede. E eu olhei pra baixo,
para o meu braço, e percebi que não conseguia mais definir os limites do meu
corpo. Eu não podia definir onde eu começava e onde eu terminava. Porque os
átomos e as moléculas do meu braço haviam se fundido com os átomos e moléculas
da parede. E tudo que eu podia detectar era essa energia. Energia. E eu estava
perguntando a mim mesma, "o que há de errado comigo, o que está acontecendo?"
E nesse momento, a minha conversa cerebral, a conversa cerebral do meu hemisfério
esquerdo tinha se silenciado totalmente. Exatamente como quando alguém pega um
controle remoto e aperta o botão de "mudo" e - silêncio total.

E no começo eu fiquei chocada ao me ver dentro de uma mente silenciosa. Mas então
eu fiquei imediatamente pela grandiosidade da energia ao meu redor. E por eu não
poder mais identificar os limites do meu corpo, eu me senti enorme e expansiva.
Eu me senti em unidade com toda a energia que havia, e aquilo ali era lindo.

Então de repente meu hemisfério esquerdo voltou à ativa e me disse, "Ei! Nós
temos um problema, nós temos um problema, nós temos que pedir ajuda." Então
era como "Ok, ok, nós temos um problema, mas então me deixei levar imediatamente
de volta para a consciência, e eu carinhosamente me referi a esse espaço como
"La La Land". Mas era lindo ali. Imagine como seria, estar totalmente desconectado
da nossa conversa cerebral que conecta você ao mundo exterior. Então ali estou
eu nesse espaço e qualquer estresse relacionado ao meu trabalho havia sumido. E
eu senti leveza no meu corpo. E imagine todos os relacionamentos no mundo exterior
e os tantos causadores de estresse relacionados a esses relacionamentos, todos
eles tinham sumido. Eu senti uma sensação de paz. E imagine o que é perder
37 anos de bagagem emocional! Eu senti euforia. A euforia era maravilhosa - e
então meu hemisfério esquerdo volta à ação e diz "Ei! você tem que prestar
atenção, nós temos que buscar ajuda", e eu pensei "Eu tenho que pedir ajuda.
Tenho que me focar." Então saí do chuveiro e mecanicamente me vesti e andei
pelo meu apartamento, e eu pensava "Eu tenho que ir trabalhar, tenho que
ir pro trabalho, consigo dirigir? Consigo dirigir?"

Naquele momento meu braço direito ficou totalmente paralisado do meu lado. E eu
percebi "O meu Deus! Estou tendo um derrame! Estou tendo um derrame!" E a
próxima coisa que o meu cérebro me diz é "Uau! Isso é tão legal. Isso é tão legal.
Quantos cientistas têm oportunidade de estudar seu próprio cérebro de dentro
para fora?"

E então veio à minha cabeça: "Mas eu sou uma mulher muito ocupada. Eu não tenho
tempo para um derrame!" Então é como "Ok, eu não posso impedir que o derrame
aconteça, então vou fazer isso por uma semana ou duas, então vou voltar para
minha rotina, ok."

Então eu tenho que pedir ajuda por telefone, eu tenho que telefonar para o
trabalho. Eu não conseguia me lembrar do número do telefone do meu trabalho,
então me lembrei, no meu escritório eu tinha um cartão com meu número nele.
Então eu fui para a minha sala de trabalho, e levantei uma pilha de 3 polegadas
de cartões profissionais. E eu estava ali olhando o cartão de cima, e embora
eu pudesse ver claramente no olho da minha mente como o meu cartão se parecia,
eu não conseguia distinguir se esse cartão era meu ou não, porque tudo o que
eu podia ver eram pixels. E os pixels das palavras se fundiam com os pixels
do cartão e com os pixels dos símbolos, e eu não conseguia distinguir. E eu
esperaria pelo que eu chamava de "onda de clareza" E naquele momento, eu podia
me conectar com minha realidade normal e distinguir, "esse não é o meu cartão,
esse não é o meu cartão, esse não é o cartão" Eu levei 45 minutos para
ver 2 centímetros e meio de cartões.

Enquanto isso, por 45 minutos a hemorragia se tornou maior no meu hemisfério
esquerdo. Eu não entendia números, eu não entendia o telefone, mas esse era
o único plano que eu tinha. Então eu peguei o fone e coloquei aqui, peguei
o cartão, coloquei aqui, e tentava coincidir o formato dos números no cartão
com o formato dos números no fone. Mas então eu voltava para o "La La Land",
e não me lembrava mais se eu já tinha digitado aqueles números.

Então eu tive que manusear meu braço paralisado como uma caneta, e cobri os
números que eu já tinha digitado e ia digitando, para que eu pudesse voltar
à realidade e dizer "sim, eu já digitei esse número" No fim, todo o número
havia sido digitado, e eu ouvi ao telefone, e meu colega pegou o telefone
e me disse "au au au au au au" [risos] E eu pensei "Oh, meu Deus, ele fala
como um cachorro!" E então, na minha mente eu disse a ele, claramente
"Aqui é a Jill! Eu preciso de ajuda!" E o que saiu na minha voz foi "au
au au au au". Eu pensei "Oh meu Deus, eu falo que nem um cachorro" Então eu
não podia saber, eu não sabia que eu não podia falar ou entender a linguagem
até aquele momento.

Então eu reconheci que eu precisava de ajuda, e ele me mandou ajuda. E um
pouco depois, eu estava indo de ambulância de um hospital do outro lado de
Boston para o Hospital Geral de Massachussetts. E eu me enrolei numa pequena
bola fetal. E exatamente como um balão com a última reserva de ar, bem ali
fora do balão eu senti minha energia se elevar e senti meu espírito se
render. E naquele momento eu sabia que eu não era mais a coreógrafa da minha
vida. E que ou os médicos resgatariam o meu corpo e me dariam uma segunda
chance, ou esse era talvez meu momento de transição.

Então eu acordei depois daquela manhã e eu estava chocada ao descobrir que
eu ainda estava viva. Quando eu senti meu espírito se render, eu disse
adeus à vida, e minha mente estava agora suspensa entre dois planos bem
diferentes da realidade. Os estímulos que chegavam ao meus sistemas sensoriais
pareciam pura dor. A luz queimava o meu cérebro como fogo selvagem e soava
tão caótica que eu não podia distinguir uma voz do barulho ao fundo, e eu
só queria escapar. Por eu não conseguir identificar a posição do meu corpo
no espaço, eu me senti enorme e expansiva, como um gênio que acabou de ser
libertado da sua garrafa. E meu espírito se ergueu livre, como uma grande
baleia flutuando no mar de euforia silenciosa. Harmoniosamente. Eu lembro
de ter pensado que não havia jeito de eu espremer a enormidade de mim mesma
e colocá-la de volta dentro deste minúsculo corpo.

Mas eu percebi "Mas eu ainda estou viva! Eu ainda estou viva e eu encontrei
o Nirvana. E se eu encontrei o Nirvana e ainda estou viva, então qualquer
um que está vivo pode encontrar o Nirvana." Eu imaginei um mundo cheio de
pessoas lindas, pacíficas, compassivas e amorosas, que pudessem saber que
podiam vir para esse espaço a qualquer momento. E que eles podiam escolher
conscientemente pular para o hemisfério direito e encontrar essa paz. E então
eu percebi a tremenda dádiva que essa experiência podia ser, que esse derrame
de insight uma maneira de como poderíamos viver nossas vidas. E isso me motivou
a me recuperar.

Duas semanas e meis após a hemorragia, os cirurgiões chegaram e removeram uma
massa de sangue do tamanho de uma bola de golfe que estava pressionando meus
centros de linguagem. Aqui eu estou com a minha mamãe, que é um verdadeiro
anjo na minha vida. Eu levei oito anos para me recuperar completamente.

Então quem somos nós? Nós somos a força da vida do universo, com destreza
manual e duas mentes cognitivas. E nós temos o poder de escolher, momento a
momento, quem e como nós queremos ser no mundo. Aqui mesmo e agora mesmo,
eu posso entrar na consciência do meu hemisfério direito onde nós somos
- eu sou - a força da vida do universo, e a força da vida das 50 trilhões
de gênios moleculares maravilhosos que constituem a minha forma. Em unidade
com tudo que é. Ou eu posso escolher entrar na consciência do meu hemisfério
esquerdo, onde eu me torno um indivíduo único, um sólido, separado do fluxo,
separado de você. Eu sou a Drª Jill Bolte Taylor, intelectual, neuro-anatomista.
Esses são os "nós" dentro de mim.

Qual você escolheria? Qual você escolhe? E quando? Eu acredito que quanto mais
tempo nós passamos escolhendo ativar os circuitos profundos a nossa paz interior
dos nossos hemisférios direitos, mais paz nós projetaremos no mundo e mais
pacífico nosso planeta será. E eu penso que essa é uma idéia que vale a pena
difundir.>> (Traduzido por Marcelo Oliveira)

domingo, 2 de março de 2008

Compaixão

O mundo nos diz que para sermos felizes, precisamos obter sucesso financeiro, subir na carreira, fazer amigos, ter bons contatos, ter uma boa casa, constituir uma família, fazer exercícios físicos, ler muitos livros, gozar de boa saúde, estudar em boas escolas, etc.

Todas essas coisas são importantes e nos trazem um certo grau de felicidade. Porém, nem sempre é possível ter essas coisas, ou nem sempre é possível ter todas essas coisas ao mesmo tempo, ou então podemos ter coisas e depois perdê-las, ou então podemos ter todas essas coisas e ainda assim perceber que não somos plenamente felizes, como acontece com muitas pessoas hoje em dia. Podemos ter todas essas coisas que o mundo diz que são necessárias para a felicidade, mas ainda assim experimentaremos infelicidade em muitos momentos de nossas vidas. Geralmente, estamos sempre esperando "a próxima coisa" para nos tornarmos plenamente felizes.

Porém, não existe nada que produza mais felicidade do que a compaixão. Se existe alguma habilidade que valha totalmente a pena adquirir nesta vida, se existe algum investimento rentável para ser feliz nesta vida, esse investimento é cultivar e expandir a compaixão pelas pessoas que estão à nossa volta. Esse não é o tipo de felicidade comum que conhecemos no dia-a-dia ao obter coisas. Essa felicidade não se restringe ao conceito limitado de "eu sou uma pessoa feliz". A compaixão, quando expandida, não só nos traz uma felicidade autêntica, como acaba contagiando as outras pessoas à nossa volta com paz e alegria.

sábado, 3 de março de 2007

O buraco na flauta

"Eu sou um buraco na flauta pela qual passa o sopro de Cristo. Ouça esta
música." ~ Hafiz
(Shams-ud-din Muhammad Hafiz, poeta persa do século 14)


As coisas mais belas podem ser ditas em poucas palavras.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Consciência Não Condicionada e O Poder do Agora
Fonte:http://www.newtimes.org/issue/9911/99-11-power.html
Minha tradução:
Um diálogo entre Eckhart Tolle e Mary O'Malley
Eckhart Tolle, um mestre espiritual de Vancouver, Canadá, é o autor de O Poder do Agora, uma jóia de clareza e insight que foi aclamada como "uma obra-prima espiritual de e para nossos tempos."
Mary O'Malley é uma conselheira e mestre espiritual de Kirkland, Washington, e autora de Belonging to Life: The Journey of Awakening. (Pertencendo à vida: A Jornada do Despertar)
Mary: Nós estamos vivendo no tempo mais incrível, um tempo onde mais e mais pessoas estão despertando novamente para a vida, para o campo do Ser que está disponível no momento presente. Neste novo despertar, nós estamos prontos para deixar de definir a nós mesmos a partir do pensamento e descobrir a nós mesmos como algo muito maior e mais amplo que isto.
Eckhart: Sim. Por muitos milhares de anos, nós temos vivido identificados com a mente condicionada, derivando dela um pequeno e realmente ilusório sentido de eu, um "pequeno eu" - sempre lutando, medroso, inquieto, em conflito consigo mesmo e com outros. Nós estamos agora abertos para o nosso estado natural de "eu", em unidade com o Ser - o vasto reino da consciência ou a própria inteligência universal, da qual a mente pensadora é apenas um pequeno aspecto. Este é o reino do silêncio interior, a partir de onde surgem todas as coisas que fazem a vida valer a pena ser vivida: criatividade, paz, vivacidade, alegria, amor.
Mary: Cada um de nós despertamos para o não-condicionada de diferentes maneiras. Sua experiência foi um despertar espontâneo. A minha foi um despertar inicial e então uma jornada de anos na qual eu tive que olhar e deixar a mente condicionada.
Eckhart: Para a maioria das pessoas, é um processo gradual, como o que você experimentou. Esta dimensão emerge dentro delas. Ela quer emergir. Para mim, aconteceu de repente, no meu 29º ano de vida. Eu estava no meio de uma depressão suicida, pensando em me matar. O pensamento "Eu não posso mais viver comigo mesmo" ficou se repetindo na minha cabeça. Então, de repente, eu fiquei consciente da estranheza daquele pensamento "Se 'eu' não posso viver 'comigo mesmo', deve haver dois de mim: o 'eu' e o 'eu mesmo' com o qual eu não consigo viver."Naquele momento, minha consciência removeu sua identificação com eu infeliz, profundamente condicionado e muito medroso. A retirada deve ter sido tão completa que este eu falso e sofrido desmoronou completamente, como se um pino tivesse sido retirado de um brinquedo inflável. O que restou foi minha verdadeira natureza como o sempre presente EU SOU: consciência em seu estado puro, antes da identificação com a forma. Eu acordei no dia seguinte em êxtase, que vem e que vai. Mas a corrente profunda de paz nunca me deixou desde então.
Mary: O que você vê como o maior obstáculo para conhecer a consciência não condicionada?
Eckhart: Não ser capaz de parar de pensar. Esta é uma aflição terrível, mas nós não percebemos isto porque quase todo mundo está sofrendo disso. Então, ela é considerada normal. Esse barulho mental incessante impede você de encontrar aquele reino de calma interior que é inseparável do Ser. Isto também cria um falso eu criado pela mente, que lança uma sombra de medo e sofrimento.
Mary: Para mim, a mente condicionada era cheia de medo. Eu realmente tentei consertá-la e me livrar dela. Isto apenas me fez ficar mais contraída e separada da vida. Foi só quando eu comecei a poder ver o pensamento que eu pude me tornar calma e novamente aberta à vida.
Eckhart: Abrir-se à vida implica que você não está mais interpretando o momento presente de forma alguma. Este é o estado de liberdade. Quando você pode permitir que este momento seja como é, sem precisar rotulá-lo, querer que ele seja diferente do que é, você se abre para o vasto poder que está escondido no momento presente. Ele sempre esteve lá, mas esteve encoberto. Esta conexão não tem nada a ver com as circunstãncias da sua vida naquele momento. De fato, para muitas pessoas isso acontece quando as circunstâncias externas são as chamadas "ruins". É o simples fato de que você permitiu que este momento seja.
Mary: No meu livro, eu entro em detalhes passionais sobre os sentidos, pois para mim eles são um portal de volta para o Ser. Conforme as pessoas deixam os negócios da vida e cultivam seus sentidos, elas despertam novamente para a pura alegria que está contida no agora.
Eckhart: Estar consciente dos seus sentidos é um portal para o momento presente, no estado de presença. O que isto implica é que naquele momento de consciência aguda, a mente se tornou quieta. Este é o estado de consciência que é livre de pensamentos, e que é a coisa mais preciosa que poderia acontecer a você. Algumas pessoas experimentam isso acidentalmente num momento de perigo, beleza, exaustão física. Nós agora percebemos que nós podemos escolher entrar nesse estado conscientemente.
Mary: No meu despertar, uma das coisas mais difíceis com as quais eu tive que lidar foram a abertura e fechamento, a lembrança e o esquecimento. Ao experimentar o estado do Ser e então assistir a mente condicionada transformar tudo em um problema novamente, eu senti angústia.
Eckhart: Os problemas estão enraizados na própria estrutura da mente condicionada. Para sobreviver e continuar no controle, a mente precisa de problemas. Ela nunca dirá isso abertamente. Ela dirá, "Eu quero me livrar dos problemas", mas isso sempre recria problemas. Uma maneira rápida, quando você observa os problemas surgirem, é perguntar "Qual é o problema neste momento?" Então fique muito alerta para a realidade deste momento e veja se o problema tem qualquer realidade agora mesmo.
Mary: E normalmente ele não tem! Agora eu posso observar minha mente lutadora com grande gentileza. Eu acho que a razão pela qual eu posso vê-la tão claramente é que meu coração está aberto a isso. Eu tenho tanta misericórdia por esta mente que tentou desesperadamente me manter "segura", até que eu me tornei consciente o bastante para descobrir que eu sou segura.
Eckhart: Reconhecer que nunca há um problema no momento presente é uma percepção revolucionária. Às vezes, isto é interpretado erroneamente pela mente. Ela diz que você está negando a realidade por não se focar nesses problemas. É claro que não é isso. Sempre haverá desafios na via. A capacidade de lidar com os desafios é muito maior quando a atenção está totalmente no agora, em vez de num estado de resistência. Você pode então perguntar, "Neste momento, há algo que eu posso fazer?" Se houver, então o fazer acontece; a ação é realizada.Ou talvez não haja nada que você possa fazer no momento, e este momento é aceito da maneira que é. Isso simplifica a vida enormemente. Desafios não podem mais se transformar em problemas, e o peso sai da sua vida.
Mary: Uma outra coisa que me ajudou imensamente no meu despertar é não resistir ao que está acontecendo.
Eckhart: dar boas vindas ao que quer que aconteça neste momento é a prática espiritual definitiva. Se você praticar somente essa única coisa, você não precisará lera mais nenhum livro ou aprender nenhuma outra técnica de meditação. Dar boas-vidas o que quer que surja neste momento, fora ou dentro de você, traz liberdade. A mente condicionada dirá para você não fazer isso, porque ela acredita que, através da resistência, ela se tornará livre. Mas o contrário é a verdade. Ao resistir, você se torna ainda mais paralisado. Quando voc~e não acredita mais no que a mente está dizendo, você percebe que a maneira mais rápida para a transformação acontecer é darboas vindas ao que é. Nesse momento, a vida é livre para fluir atravès de você. A mente condicionada não está mais obstruindo a vida.
Mary: Ao falar sobre cultivar o agora, é fácil pensar que nós estamos "desativando" a mente e sua crença no passado e no futuro. Mas não é isso. Ela (a mente) é uma linda ferramenta que é necessária para manobrarmos através da vida, mas para a maioria de nós, ela toma controle das nossas vidas.
Eckhart: É apenas a identificação de si mesmo com a mente que causa sofrimento. Quando isso acontece, a mente possui uma qualidade compulsiva. Quando isso se vai, então a mente é uma ferramenta maravilhosa que pode dar expressão ao que acontece nos níveis mais profundos. Na vida diária, você precisa do passado e do futuro, mas sua identidade não precisa vir deles. A ilusão é procurar identidade no passado, identificar-se com o passado como se fosse "eu". A outra ilusão é procurar satisfação no futuro: Eu preciso me tornar algo; tornar-me mais completo; um dia, eu chegarei lá. Mesmo a iluminação pode se tornar uma ilusão, se você procurá-la como algum estado futuro.Ao cultivar o agora, você ainda se lembra de coisas do passado, mas a busca de si mesmo não existe mais nessas lembranças. E você ainda usa o futuro para assuntos práticos. A ansiedade e o apego, que são uma receita para a não-realização, não estão mais lá.
Mary: Quanto mais eu cultivo o agora, mais alegria eu sinto. Meu corpo inteiro se torna radiante quando eu me torno mais suave e aberta de novo à vida.
Eckhart: Eu chamo o que você está experimentando de "corpo interior". Algumas pessoas o chamam de corpo leve. É um senso geral de vivacidade através de cada célula do corpo. O estado de presença não é um estado mental; todo o seu ser participa dele.
Mary: Quando eu ouvir você falar no último verão, eu parei de ouvir suas palavras, e me abri para este corpo leve.
Eckhart: Quando se fala a partir do silêncio, as palavras carregam uma transmissão de energia, uma vibração. É como se as palavras fossem secundárias. É a energia que vem das palavras - ou melhor, o silêncio entre as palavras - que é o maior ensinamento.
Mary: Você gostaria de nos deixar com um último pensamento?
Eckhart: As pessoas dizem que viver no agora é difícil. Mas o contrário é que é a verdade. O jeito normal é que é difícil, e não viver no agora. Dar boas-vindas ao agora é dar boas-vindas à própria vida, porque o agora é inseparável da vida. Então, não faça do agora um inimigo. Faça amizade com ele. Em outras palavras, aceite cada momento e o que quer que ele contenha, como se fosse uma escolha sua. Imediatamente, a vida começará a trabalhar para você, em vez de contra você. Então observe o milagre da vida se revelar.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Onde está você?

Onde está você?

Está remoendo algum acontecimento passado?

Está ansiando por um evento futuro?

Ou está vivendo plenamente sua vida, que é o agora - e somente o agora?

Você precisa mesmo defender seu ponto de vista?

Sempre que você estiver conversando com alguém, verifique se você está sentindo necessidade de defender seu ponto de vista. Verifique a vontade de tornar a sua opinião mais importante do que a opinião do outro. Se essa vontade de "estar certo" aparecer em você, saiba que é o ego. O ego tem necessidade de estar certo. Para o ego, estar errado é a morte. Para satisfazer sua necessidade de estar certo, o ego se comunica com outros egos através da discussão ou da validação. Na discussão, o ego vê o seu ponto de vista sendo atacado, por isso ele reage e contra-ataca. É interessante perceber os recursos primitivos que ele utiliza, como aumentar o volume da voz, modificar a entonação da voz para torná-la mais dramática, fazer gestos ou posturas ameaçadoras, entre outros apelos emocionais. Já na validação, o ego encontra pessoas com pontos de vista semelhantes aos seus, e assim se sente "entre amigos". Durante a validação, os egos "amigos" se inflam através do ataque às pessoas "que não conhecem a verdade", ou seja, que têm opiniões contrárias às suas. Mas perceba que esses "amigos" só são "amigos" do ego enquanto compartilham opiniões semelhantes. Quando mudam de assunto e as opiniões se tornam conflitantes, a discussão começa novamente.

Enquanto a humanidade continuar vivendo no estágio atual, que é o relacionamento entre egos, não haverá comunicação verdadeira. Enquanto houver necessidade de se defender e atacar, não haverá espaço para ouvir o outro, não haverá espaço para compaixão, que é reconhecer a si mesmo no outro.

Quando você descobre sua verdadeira natureza além desse ego frágil e carente, não há mais necessidade de se defender, não há mais necessidade de atacar, não há mais necessidade de estar certo. É claro que você pode expor seu ponto de vista com firmeza. Você pode continuar concordando ou discordando, normalmente. Mas você pode se libertar do vício de estar sempre certo, e você pode perder o medo de estar errado. Se você busca a verdade em si mesmo, então deve reconhecer que pode não estar certo todas as vezes. Para sua verdadeira natureza, estar certo ou errado não faz a menor diferença. Estar certo não vai torná-lo melhor do que ninguém, e estar errado não vai torná-lo menos digno. Esse é o princípio da humildade, que precisamos cultivar com urgência.