"Eu sou um buraco na flauta pela qual passa o sopro de Cristo. Ouça esta
música." ~ Hafiz
(Shams-ud-din Muhammad Hafiz, poeta persa do século 14)
As coisas mais belas podem ser ditas em poucas palavras.
"Eu sou um buraco na flauta pela qual passa o sopro de Cristo. Ouça esta
música." ~ Hafiz
(Shams-ud-din Muhammad Hafiz, poeta persa do século 14)
Onde está você?
Está remoendo algum acontecimento passado?
Está ansiando por um evento futuro?
Ou está vivendo plenamente sua vida, que é o agora - e somente o agora?
Sempre que você estiver conversando com alguém, verifique se você está sentindo necessidade de defender seu ponto de vista. Verifique a vontade de tornar a sua opinião mais importante do que a opinião do outro. Se essa vontade de "estar certo" aparecer em você, saiba que é o ego. O ego tem necessidade de estar certo. Para o ego, estar errado é a morte. Para satisfazer sua necessidade de estar certo, o ego se comunica com outros egos através da discussão ou da validação. Na discussão, o ego vê o seu ponto de vista sendo atacado, por isso ele reage e contra-ataca. É interessante perceber os recursos primitivos que ele utiliza, como aumentar o volume da voz, modificar a entonação da voz para torná-la mais dramática, fazer gestos ou posturas ameaçadoras, entre outros apelos emocionais. Já na validação, o ego encontra pessoas com pontos de vista semelhantes aos seus, e assim se sente "entre amigos". Durante a validação, os egos "amigos" se inflam através do ataque às pessoas "que não conhecem a verdade", ou seja, que têm opiniões contrárias às suas. Mas perceba que esses "amigos" só são "amigos" do ego enquanto compartilham opiniões semelhantes. Quando mudam de assunto e as opiniões se tornam conflitantes, a discussão começa novamente.
Enquanto a humanidade continuar vivendo no estágio atual, que é o relacionamento entre egos, não haverá comunicação verdadeira. Enquanto houver necessidade de se defender e atacar, não haverá espaço para ouvir o outro, não haverá espaço para compaixão, que é reconhecer a si mesmo no outro.
Quando você descobre sua verdadeira natureza além desse ego frágil e carente, não há mais necessidade de se defender, não há mais necessidade de atacar, não há mais necessidade de estar certo. É claro que você pode expor seu ponto de vista com firmeza. Você pode continuar concordando ou discordando, normalmente. Mas você pode se libertar do vício de estar sempre certo, e você pode perder o medo de estar errado. Se você busca a verdade em si mesmo, então deve reconhecer que pode não estar certo todas as vezes. Para sua verdadeira natureza, estar certo ou errado não faz a menor diferença. Estar certo não vai torná-lo melhor do que ninguém, e estar errado não vai torná-lo menos digno. Esse é o princípio da humildade, que precisamos cultivar com urgência.
Desde a antiguidade, mestres espirituais de todas as tradições apontam o Agora como a chave para a dimensão espiritual. Mas parece que isso permaneceu como um
segredo. Com certeza, não é ensinado em igrejas ou em templos. Se você vai a uma
igreja, pode ouvir passagens do Evangelho como “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”,ou “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”. A profundidade e a natureza
radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Parece que ninguém percebe que
os ensinamentos foram formulados para serem vividos e, dessa forma, provocarem
uma profunda transformação interior.
Toda a essência do zen consiste em caminhar sobre o fio da navalha do Agora, em estar tão absolutamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem somos em essência, possa permanecer em nós. No Agora, na ausência do tempo, todos os nossos problemas se dissolvem. O sofrimento precisa do tempo e não consegue sobreviver no Agora.O grande mestre zen Rinzai, visando desviar a atenção de seus alunos do tempo, levantava o dedo com freqüência e perguntava calmamente:
“O que está faltando neste exato momento?” Uma pergunta poderosa, que não requer resposta no plano da mente. É formulada para conduzir uma atenção profunda para o Agora. Outra questão muito usada na tradição zen é: “Se não é agora, então quando?”
O Agora é também um ponto central no ensinamento do sufismo, o braço místico do islamismo. Os sufistas têm um ditado que diz: “O sufista é filho do momento presente”. E Rumi, o grande poeta e mestre do sufismo, ensina: “Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista, ponha fogo em ambos”.Mestre Eckhart, mestre espiritual do século treze, resumiu tudo isto com poucas e belas palavras, ao afirmar: “O que impede a luz de nos alcançar é o tempo. Não há maior obstáculo para Deus do que o tempo”.
Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva ainda caía, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta, incapaz de cruzar a intercessão.
"Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a em seus braços, ele a carregou atravessando o lamaçal.
Ekido não falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então ele não mais se conteve e disse:
"Nós monges não nos aproximamos de mulheres," ele disse a Tanzan, "especialmente as jovens e belas. Isto é perigoso. Por que fez aquilo?"
"Eu deixei a garota lá," disse Tanzan. "Você ainda a está carregando?"
"Sinto que ainda tenho muito a aprender sobre as atividades da
minha mente, antes de poder chegar a algum lugar próximo da consciência ou
iluminação espiritual.
Não, não tem. Os problemas da mente não podem ser solucionados no nível da
mente. No momento em que compreendemos que não somos a nossa mente, não existe muito mais a aprender ou compreender. O máximo que podemos conseguir ao estudar a mente é nos tornarmos bons psicólogos, mas isso não nos levará para além da mente, do mesmo modo que estudar a loucura não basta para criar a sanidade. Já
entendemos a mecânica básica do estado de inconsciência, ou seja, quando nos
identificamos com a mente geramos um falso eu interior, o ego, que é um substituto do nosso verdadeiro eu interior enraizado no Ser. Passamos a ser “um ramo cortado da videira”, como Jesus pregou.
As necessidades do ego são intermináveis. Ele se sente vulnerável e ameaçado e, em conseqüência, vive em um estado de medo e carência. Quando entendemos esse funcionamento anormal da mente, não precisamos examinar todas as suas numerosas manifestações, nem transformá-lo em um problema pessoal complexo.
O ego, é claro, adora fazer isso. Está sempre buscando algo em que se apegar para sustentar e fortalecer a ilusão que tem de si mesmo e para juntar aos seus problemas. Essa é a razão pela qual, para muitos de nós, o sentido do eu interior está intimamente ligado aos nossos problemas. Quando isso acontece, a última coisa que desejamos é nos livrar deles, porque isso significaria a perda do eu interior. Por isso, pode existir uma grande parte de investimento inconsciente do ego em mágoa e sofrimento.
Portanto, se reconhecermos que a raiz da inconsciência vem de uma identificação com a mente, o que naturalmente inclui as emoções, estaremos dando um passo para nos livrar da mente. Ficamos presentes. Quando estamos presentes, podemos permitir que a mente seja como é, sem nos deixar enredar por ela. A mente em
si é uma ferramenta maravilhosa. O mau funcionamento acontece quando buscamos o nosso eu interior dentro dela e a confundimos com quem somos. É nesse momento que a mente torna-se egóica e domina toda a nossa vida."
O que Tolle quer dizer com "Não busque o seu eu interior dentro da mente"? Ele quer dizer que a mente está em nós, mas nós não estamos na mente. A mente pensante é um aspecto da nossa consciência. A mente existe por causa da consciência, e não o contrário. Quando lhe perguntam "quem é você?", você responde que é um médico, um advogado, um estudante, etc. Claro, essas podem ser suas funções. Mas o que você realmente é, não é isso. Então, quem é você? Você é a essência, que existe por trás da função de médico, de advogado, estudante, etc. Você é a Vida, que já existia antes da aparição dessa forma de vida que você conhece.
Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.
(Lucas 10:38-42)
Estamos ansiosos e perturbados com muitas coisas. Mas apenas algumas coisas são realmente necessárias, como a atenção e a disposição para ouvir.
O Tao de que se pode falar não é o
verdadeiro e eterno Tao.